quinta-feira, 29 de maio de 2008

o olhar. silenciosa poesia da luz

Não vês que o olho abraça a beleza do mundo inteiro? (...) é janela do corpo humano, por onde a alma especula e frui a beleza do mundo, aceitando a prisão do corpo que, sem esse poder, seria um tormento (...) Ó admirável necessidade! Quem acreditaria que um espaço tão reduzido seria capaz de absorver as imagens do universo? (Leonardo da Vinci)
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Os olhos compõem o modo como estabelecemos contato com as imagens do mundo. Mostra-nos a beleza, a variedade das formas, o brilho e as cores. É um sentido que está muito presente em nossa vida. Fazemos analogia ao olhar e ao ato de enxergar coloquialmente, em nossos modos de expressão e, também usamos da memória baseada nesse sentido para nos lembrarmos de passagens, para reconstruirmos a imagem de um acontecimento ou então para elaborarmos uma idéia.
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O olhar faz parte da maneira como vemos o mundo e nos colocamos diante dele. As palavras são ‘imagens da matéria’. Quando ouvimos o som de uma palavra, ou a lemos, seu significado produz uma imagem mental. A palavra é ícone da matéria. Agrupada a ela existe uma imagem. Talvez, sendo essa uma razão, o estudo das imagens e o estudo das palavras tenham formas de representação tão parecidas: estuda-se a linguagem fotográfica, a sintaxe visual, lê-se uma imagem etc. Nesse sentido, a semiologia faria parte da linguística, e os mecanismos de interpretação de imagens assemelhariam-se aos métodos de análise linguística. Mas, para além da discussão semiológica das palavras ou das imagens, gostaria de especular especialmente sobre a representação da imagem como espelho do universo e, também, do olhar como espelho do homem. Tomar o olhar como um ato de sair de si e trazer o mundo para dentro de si.
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Os olhos são, em muitos casos, encarados como janelas da alma, e falar em janela é considerar a visão como dimensão possibilitadora de uma exposição do eu nas coisas vistas. Os olhos permitiriam uma abertura do nosso interior para enxergar o exterior. Porém, aceito a idéia de que o olhar se origina também nas coisas do mundo, delas depende e, desta forma, se torna espelho. A visão reflete a alma do homem e espelha o mundo em que vive. Janela da alma, espelho do mundo. Porque cremos que a visão se faz em nós pelo fora e, simultaneamente, se faz de nós para fora, olhar é, ao mesmo tempo, sair de si e trazer o mundo para dentro de si.
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Ver é olhar para receber conhecimento. Etimologicamente, do grego eido: ver, observar, examinar, instruir, informar, conhecer, saber; E do latim, vídeo: ver, olhar, perceber; Olhar é tomar conhecimento. Deste ponto de vista, aquele que vê, sabe. Vê a forma das coisas exteriores, as percebe e constrói uma imagem dentro de si, formando e apurando a consciência do ver. Da mesma maneira, aplica essa consciência nas coisas vistas e se projeta no mundo, lançando-se numa experiência do fazer parte. No entanto, se o ver construtor buscar a semelhança no ato mesmo de ver, entrará na representação e tentará construir signos. Daí surge a necessidade da construção de expressões visuais, que se assemelham às coisas vistas, assim como o espelho, que mostra o aspecto do que nele está refletido. Mas o espelho não é a coisa real. Nem representa com exatidão os mínimos detalhes do real.
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O espelho é uma representação de realidade, a materialização da imagem de uma coisa noutra. O simples fato do “achatamento” que existe na imagem especular é uma questão a ser levada em consideração: o que o espelho reflete é uma aparência do real e, existem alguns espelhos que distorcem essa aparência, como é o caso de espelhos convexos e côncavos, por exemplo, ou de qualquer superfície polida ou muito lisa com capacidade para refletir a luz. Nesse sentido, poderíamos pensar a fotografia como espelho do “real”? A foto pode ser considerada espelho de realidade, se considerarmos também que um espelho não é a expressão fidedigna da verdade ou da realidade, e sim uma imagem, um reflexo, uma aparência ou aspecto de algo que existe ou existiu?
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A fotografia registra, a partir de molduras e filtros criados pela câmera e pelo fotógrafo, uma imagem especular do mundo; e pode ser pensada, contudo, também como espelho do autor que a constrói pelo caminho da identificação; e do observador, que se coloca na imagem a partir de seu repertório e a interpreta dentro de um universo de referências. Para ver o mundo e surpreender-se com ele é preciso propor uma ruptura. Só é conhecimento àquilo que passa pelos sentidos: “existo, logo penso”. O conhecimento do sujeito no mundo, o vínculo com o mundo, só se dá porque se está no mundo e se percebe este mundo. Não é que a fotografia seja a expressão máxima do real, é que a partir da fotografia se tem a possibilidade de flagrar certas circunstâncias do real: uma “tomada” da densidade do vivido. Um realismo que advém da apreensão do fluxo da vida, do acaso e do imprevisto do vivido. O realismo que está na realidade do espaço-tempo. Espaço-câmera em abrir-se para o espaço-tempo de curso da vida. E registrá-lo. Dentro de todas as molduras impostas pelo ato fotográfico, creio que a foto poderia ser encarada como espelho.
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Esse realismo em documentar o factual, flagrando o imprevisto, o acaso, a vida acontecendo na sua densidade existencial e o momento em que a foto consegue realmente flagrar a realidade e a pintura não, por exemplo, é onde acontece uma particularidade importante nas técnicas de representaçãõ do real e modifica a História da Arte, a Estética, criando um novo modo de olhar. A rapidez da tomada fotográfica se impõe, na representação da realidade, ao traço do pintor. O tempo de construção de um retrato pintado se fundamentava na técnica, acuidade e subjetividade do pintor, já a fotografia existe a partir de um disparo rápido e decisivo. Mais instantâneo.
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A fotografia é um registro muito rápido do instante visível. A mão do artista demora horas para conseguir reproduzir a imagem de um momento vivido. O olho é muito mais rápido que a mão. E o registro fotográfico, a criação fotográfica, passa a ter uma maior velocidade de representação e, por sua vez, de comunicação. É claro que, na contemporaneidade, essa discussão toma outros caminhos: além das escolhas do fotógrafo na hora de clicar, compondo o quadro, o momento, a fotometragem, existem também as alternativas da própria câmera, das lentes e dos materiais fotossensíveis. E é interessante pensá-la, sobretudo, como um modo muito novo de criação artística e de registro histórico. Nesse momento, a subjetividade do fotógrafo é encarada como repertório e seu trabalho molda-se e aprimora-se estética e informativamente pelo viés da autoria conjuntamente às influências do contexto social.
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Fotografar torna-se um processo classificatório que privilegia uma cena ou um detalhe, pressupondo uma escolha e uma intenção que se materializa no resultado. O caráter especular, presente no fotográfico serve então de conceito representativo para fotografias com pretensões documentais. Empírica e propositivamente há uma necessidade de “salvar o ser pela aparência”. Há aspiração pelo registro que busque a “eternização” de pessoas, acontecimentos e coisas do mundo. Que espelhe certa realidade.
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Jogando com essas idéias, arrisco colocar o olhar diante de uma construção do olhar: o ser diante da matéria, o olho e a fotografia. Estaríamos, deste modo, diante de uma refração. Um desvio de direção. Estaríamos diante de espelhos paralelos que produziriam uma reflexão cujo número de imagens seria infinita. Raios luminosos atravessando sucessivamente dois meios de densidade diferente. O olhar diante da imagem fotográfica reflete à fruição o aspecto das imagens interiores, assim como absorve o aspecto das imagens exteriores concentradas sobre o fotográfico. A foto seria a materialização da experiência especular do ato de ver e, colocaria diante do espectador a transmissão luminosa do olhar, a partir da inscrição com a luz.
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Em uma analogia bem especulatória, poderíamos tomar a fotografia como um elemento espelhado colocado entre dois espelhos. Um desses espelhos seria o autor (fotógrafo) e o outro, o observador (espectador). A foto constituir-se-ia como a concretização da espelhagem que há no ato de olhar. Esta fotografia tornar-se-ia meio, mediação e transmissão do olhar do fotógrafo ao olhar do espectador. Comunicaria tanto uma mensagem composta na imagem fotográfica como informaria uma parte do mundo que se passou diante da câmera, revelaria o modo de olhar do fotógrafo e também o de interpretar do observador. Teríamos a imagem fotográfica como espelho e o espelho como “instrumento de uma universal magia que transforma as coisas em espetáculos, os espetáculos em coisas, eu em outrem e outrem em mim” Entre o ser e o visível, os papéis se invertem: inevitavelmente, as coisas nos olham. Através da visão trazemos o universo para dentro de nosso ser.
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A fruição das imagens do mundo vai lapidando e formando um espírito atento à experiência do olhar. Observar obras criativas de um espírito tocado pela imagem do mundo sustenta a dimensão do homem no universo. Acrescenta novos conhecimentos sobre a existência e nos coloca diante das coisas. Às vezes, pode parecer que somos observados, tocados e povoados pelo que nos cerca.

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Existe um poema do Carlos Drummond de Andrade, chamado "Paisagem: como se faz", que é muito interessante e ilustra de alguma maneira o que tento dizer neste texto.


Referências: Chauí, Merleau Ponty, Dubois, Barthes

denise silveira.

o fotográfico

A fotografia é a consolidação de um olhar. Não somente do olhar do fotógrafo, particular e com sua bagagem de história e de significado, mas também do olhar coletivo, que modela as aspirações de grupos sociais, de uma sociedade ou mesmo de uma civilização num determinado momento. Leva-nos a uma reflexão sobre a história das imagens do mundo que nos cerca, sobre a nossa História. Esse reflexo de realidade, demarcado no tempo e no espaço da imagem, é cumulativo e abre caminho para novos olhares e novas significações. É uma maneira de ver e pensar o mundo.
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Diante de uma imagem, cada sujeito reage de modo diferente. Enquanto, para alguns, a fotografia interessa somente pelo que é como artefato (uma realidade fluindo no tempo), para outros faz perceber significados a serem examinados (uma realidade fruída no tempo). A cada novo ângulo, a cada ponto de vista, sob cada luz, configuram-se novas leituras e interpretações dessa representação do real.
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É importante salientar que toda fotografia, por ser um processo que produz e registra uma imagem à semelhança da realidade, para o olhar humano, é um documento. Por ser, em sua gênese, um processo documental de expressão e representação da realidade, por conter uma fibrilha de tempo, um rasgo de espaço, a fotografia consiste num recorte que é centelha de universo. Porém, essa fotografia-documento está sujeita a modificações em várias de suas estâncias. Tanto por parte do fotógrafo como por parte de outros sujeitos envolvidos na sua produção e no seu trânsito social, vão ocorrer mudanças que variam desde a produção até a recepção.
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O meio configura um importante componente para a caracterização da fotografia. O espaço de veiculação, a natureza e a técnica de reprodução da imagem conformam aspectos determinantes para a sua recepção e interpretação. A forma com que a fotografia é exposta ao observador e a qualidade técnica da cópia determinam certas delimitações interpretativas e valorativas. Fotografias em jornais ou em revistas tendem a receber atenção distinta, e se ocupam espaços maiores ou menores, também. Fotografias em livros, pesquisas científicas e exposições tendem ao status de ocupar maior espaço no imaginário social.
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O observador, que é receptor de uma mensagem fotográfica, também contribui para a formação da imagem. Suas condições intelectuais e afetivas aliadas a bagagem pessoal e ao repertório cultural possibilitam uma percepção mais aprofundanada ou não do conteúdo de uma imagem. A partir de alguns pontos de vista citados até então, encontro uma definição polissêmica do elemento fotográfico: A obra fotográfica seria a criação do testemunho da fração de realidade que um ato fotográfico comporta. Contém limites informativos e, por sua vez, interpretativos. Mas também, suporta desdobramentos documentais e analíticos.
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Há uma espécie de “esticamento”, maleabilidade e flexibilidade. Deste modo, a fotografia se encontra sob a luz de inúmeras mediações. Ela é ambígua e, ao mesmo tempo, denota direcionamentos informacionais. Reúne mensagens pré e pós-estabelecidas e permite variações interpretativas, conotando, deste modo, relações comunicacionais.
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Podemos trabalhar o valor informacional, como o espaço apresentado pelas fotografias documentais de um agrupamento de elementos de informação técnica e estética delimitados pelo plano da imagem. Valor informacional como o conjunto de informações sobre o mundo e coisas do mundo que a foto comporta como documento: questões de ordem informativa que dizem respeito aos aspectos da composição, das cores, das linhas, da luz, do movimento, da ação e do registro histórico. E, valor comunicacional, como a ‘conversação’ (o diálogo) que a fotografia produz. A articulação de idéias e analogias que ela proporciona numa relação dialética, no nível semântico e da sintaxe visual. Valor comunicacional como resultado da fruição: como o movimento de articulações, ligações e relações que o sujeito estabelece ao fruir uma fotografia.
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O leitor de uma obra seria um co-autor, pois a partir de sua interpretação, daria fechamentos possíveis sobretudo a partir de sua subjetividade, de seu repertório e de sua bagagem, respeitando certa coerência à mensagem imposta na obra. O observador recriaria a obra artística, em seus possíveis contatos com ela e, tomaria contato com um “algo mais” ausente na própria obra.
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A fotografia seria uma obra aberta no sentido de existir enquanto observada e de transmitir informações àqueles que se dispõem a fruir e interpretar uma imagem. Uma obra aberta no sentido de abrir inúmeras possibilidades de leitura e significação. Estamos falando de um conjunto de informações técnicas, cognitivas e emocionais que permeiam a existência da imagem fotográfica e sua interpretação. A fotografia pode ser encarada como uma construção do fotógrafo, que significará uma obra a ser lida, interpretada e decifrada por um observador, o qual será entendido como co-construtor e co-autor desta fotografia.
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Entende-se uma obra como a existência de um signo submetido a diversas interpretações: não há “interpretante que, ao confrontar o signo que interpreta, não modifique, mesmo que só um pouco, seus limites". A partir de então, será necessário tornar relevante, a compreensão do conceito de limites da interpretação, limites que seriam estruturas a estimular e regular a interpretação de uma obra. O leitor, o observador, manteria uma relação dialética com o autor e seria um participante na construção de sentidos.
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Tomemos, então, a informação como um sentido unívoco de uma fonte a um receptor E a comunicação, como um sentido biunívoco, permitindo um diálogo, uma troca. A comunicação como meio de ligação entre o autor e o receptor. Se tomarmos a informação como categoria, ela seria a mensagem de uma fonte a um receptor. Já a comunicação seria a conseqüência dessa mensagem informativa. Cada indivíduo interpretará e significará a mensagem fotográfica de modo diverso, dependendo de sua carga de bagagem pessoal e de seu repertório cultural (formando, assim, uma ‘comunicação fotográfica’). Esta comunicação (o valor comunicacional da fotografia) seria o resultado de uma interpretação.
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Para examinar os elementos informacionais e para achar o valor comunicacional de certas fotografias, podemos adotar a abordagem da foto como mensagem: Imagem carregada de informações que, ao observada, cria uma relação dialógica entre autor e espectador, transmitindo uma mensagem. Uma negociação silenciosa.
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Fotografias, de modo geral, possuem conteúdo científico e conteúdo estético. A reação do espectador a estes conteúdos é uma relação comunicacional, pois causa uma operação pela qual o contato com a imagem acarreta certa modificação (reação) do indivíduo dando origem a novas sensações e novos conhecimentos. Transformações decorrentes do estranhamento, do choque, ou da empatia por uma imagem.
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O fotógrafo não controla as reações da leitura de suas fotografias. Mesmo que tenha certas intenções de suscitar determinadas reações, pode causar outras, como o riso, a compaixão, o sofrimento, a raiva, a melancolia ou a tristeza, e até mesmo, porque não, paixões e êxtases.
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Comunicacionalmente, as informações contidas em uma fotografia transmitem uma idéia, um conceito e um olhar sobre a realidade. Trabalha-se com a perspectiva de que as imagens representam parte da realidade de um determinado momento. O olhar 'treinado' do fotógrafo capta cenas que possam ser relevantes à expressão das características de uma cultura, de um momento ou um fato e assim expressa também certas características do próprio fotógrafo e do período histórico e contexto social em que as fotos foram realizadas. Porém, essa transmissão das informações e o retorno comunicacional que elas ocasionam passam por certas mediações. Mediações que seriam filtros compostos pela bagagem pessoal, pelo repertório cultural do observador.
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Tratar-se-ia então de flagrar justamente a recepção, aquilo que as pessoas fazem dos conteúdos que recebem. Perceber os múltiplos modos de interação com os meios. Nesta interação, as culturas populares são elementos importantes de configuração. Ninguém se expõe nu aos meios, como se fosse uma página em branco. Todos vêem e interpretam a partir dos parâmetros culturais nos quais foram criados. Trata-se de pensar a comunicação a partir da cultura.
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As mediações são nada mais do que os filtros culturais, sociais, políticos e religiosos. São parâmetros, um repertório de onde se dão adequações e negociações dos sentidos. As mediações seriam encontradas então na temporalidade social, no cotidiano familiar, no conhecimento cultural e na posição política do indivíduo.
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Como meio de expressão individual e instrumento de conhecimento das diversidades do mundo, a fotografia possui também uma dualidade: a de criação e testemunho. A natureza polissêmica do fotográfico permite várias leituras, dependendo de quem a aprecia, pois o receptor já tem suas próprias “imagens mentais pré-concebidas” sobre determinados assuntos. Estas imagens mentais estão presentes em cada um de e funcionam como filtros (ideológicos, culturais, morais, éticos e estéticos) que interagem entre si e atuam no receptor, com maior ou menor intensidade O comportamento de cada um, o sentimento de percepção, emoção, afinidade ou rejeição diante de uma imagem, depende do repertório que o receptor possui. Uma fotografia, ou um conjunto de fotografias, não representam uma realidade passada e sim congelam nos limites do plano da imagem uma parcela do real.
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Fotografar é um processo classificatório que privilegia uma cena ou um detalhe, pressupondo uma escolha e uma intenção que se materializa no resultado. Os valores da fotografia perpassam o estético e o científico. São valores que não deixam de se complementar e entrecruzar. E contribuem para a composição dos olhares que formam uma fotografia. Olhares do autor e do observador que dialogam entre si.



Referências: Eco, Barthes, Kossoy, Flusser, Dubois, Bazin, Martín-Barbero


denise silveira.

dada

DeStinO. ROseira. ViOla. SaUdade. SilênciO. LágriMa. FlOr. NuanCe. TextUra. PaiSagem. COr. EsPaçO. TeMpO. PáSsarO. CaSa. NuVem. VentO. Sul. EsTrela. CaMpO. PagO. Pala. MitO. TeRra. Ar. FOgO. ÁgUa. ChUva. MúSica. SubliMe. POesia. ARte. VerSo. TambOr. GraMa. VeRde. SutiL. AbÓbada. CeleSte. AzuL. FerrO. Olhar. AlMa. LuZ. SOmbra. PretO. ÍndiO. BrancO. AmarelO. Aquarela. ArcO-íris. SOl. Prisma. BarcO. POeta. FOlha. VidrO. SOnhO. Gris. AniS. CaminhO. DeScalçO. MadrUgada. AlvOrada. TriSteza. CrepúSculO. AurOra. BOreal. SOlidãO. ChOrO. PinhO. EspinhO. PiãO. SuOr. VinhO. VenTre. SemeNte. LeiTe. ESpíritO. CaRne. POiese. PerdãO. QuinteSsência. CatarSe. AlhureS. ImaGem. SímbOlO. PãO. TrigO. ROda. Rua. ROsa. CantO. LivrO. PaU. PedrA. LaReira. NOite. FriO. BrunO. LeveZa. PureZa. PerfumE. PerigO. DivinO. VIda. GeMa. SangUe. MOrte. DEvir. SeR.

denise.

terça-feira, 27 de maio de 2008

mastigo flores, engulo dor

Mastigo flores,
engulo dor,
defeco caos.
Transformo sofrimento em alucinação.
Sonhando posso voar.
Encontro um quixote triste que me conta um segredo:
quem semeia amor,
colhe felicidade.
Tempestivamente junto o caos,
alucinadamente busco consciência,
gero mudanças.
Vontade de vontade.
Vontade de potência.
Migro deste universo, para um estado alterado de realidade.
E gozo de uma tranquilidade
latejante

denise.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

africanismo: poiese africana no brasil

Os escravos trazidos da África para o Brasil vieram de várias regiões, correspondentes a diversas tribos e culturas africanas: Sudaneses (Iorubá); Daomeanos (Fon, Ewe, Jeje); Bantos (Angola, Congo, Benguela); e as civilizações Islamizadas (Peuhl, Haussa, Mandinga). O regime escravista imposto pelos colonizadores, provocou certa destruição do sistema social e dos valores do povo africano e as tradições trazidas com os escravos poderiam diminuir de intensidade, com o passar do tempo, até perderem a importância e o significado.

No entanto, vários fatores contribuíram para que isto não ocorresse: A herança religiosa se reavivou continuamente pelo contato com a África, através da memória cultural e afetiva estimulada no comércio de amuletos, fetiches e instrumentos de culto e, também, pelo tráfego de escravos do qual faziam parte feiticeiros, curandeiros e sacerdotes. A incompreensão dos brancos face ao alcance da religiosidade negra e, principalmente, a enorme capacidade de disfarçar a tradição ancestral sob a máscara de um catolicismo típico, popular, permitiu aos escravos a preservação de convicções mágicas e míticas africanas. Os valores e símbolos revigoraram-se enquanto os senhores permitiam a realização de certos ritos, considerados festejos, em dias santos católicos. No descanso dominical, as crenças eram praticadas com afinco. Desse modo, os negros reuniam-se em torno de seus atabaques, batucavam e dançavam. Essa confraternização fortificava a memória cultural e o culto dos Orixás, que a partir de seus rituais na senzala transformaram-se numa nova forma de crença religiosa.


A fé católica era imposta pelos colonizadores. Mas os membros da Igreja e os Senhores permitiam, por vezes, a prática de cantos e costumes particulares de veneração aos negros, como forma de “adaptação” do dogma católico à mentalidade africana. Entretanto, esse “catolicismo negro” era uma forma dissimulada de conservação das relíquias religiosas africanas. A tradução dos nomes dos Orixás pelos nomes de santos católicos (cujas imagens poderiam recordá-los) servia para iludir a Igreja e os Senhores, substituindo, a partir de uma sublimação, as entidades africanas pelos santos católicos.


Entretanto, em contrapartida, as formas religiosas africanas influenciaram em muito o catolicismo popular, lançando suas crenças ao colonizador. O branco passa a procurar o negro para obter poções mágicas que lhe proporcionassem a cura de doenças ou que o protegessem de algum mal desconhecido, por exemplo. A tática de dispersão dos grupos tribais parece ter sido a primeira medida adotada em toda a América para a proteção do Senhor e do Regime Escravocrata - que temiam a possibilidade de revolta entre africanos de mesma origem. Assim, os escravos viam-se propositalmente separados de suas tribos e famílias originais, tendo integrantes de seus grupos familiares desunidos e dispersados por vários pontos do país. Essa ruína comunitária fez com que os negros se voltassem para aquilo que, num meio hostil de opressores e oprimidos, subsistia com força em seu íntimo: os mitos, deuses e ritos. O sagrado, a religião. Criando, desta forma, novas comunidades agora essencialmente religiosas.


Segundo Pierre Verger, antropólogo francês naturalizado brasileiro, a religião africana é diretamente relacionada às questões ligadas à família: "A religião dos Orixás está ligada á noção de família. A família numerosa, originária de um mesmo antepassado, que engloba os vivos e os mortos. O Orixá seria, em princípio, um ancestral divinizado, que, em vida, estabelecera vínculos que lhe garantiam um controle sobre certas forças da natureza, como o trovão, o vento, as águas doces ou salgadas, ou, então, assegurando-lhe a possibilidade de exercer certas atividades como a caça, o trabalho com metais ou, ainda, adquirindo o conhecimento das propriedades das plantas e de sua utilização. O poder, àse, do ancestral-orixá teria, após a sua morte, a faculdade de encarnar-se momentaneamente em um dos seus descendentes durante um fenômeno de possessão por ele provocada." (VERGER)


As divindades e as práticas mágicas que se relacionavam à colheita ou à fertilidade foram diminuindo de importância entre os descendentes africanos no Brasil. Esses afazeres, tarefas e preocupações não tinham sentido por aqui: o homem negro escravo do senhor, não possuía mais controle sobre a sua plantação ou sobre a formação da sua família. Assim, as figuras das divindades da guerra, da justiça e da vingança assumiram maior destaque e significação nos rituais sagrados. Pois tinham mais a ver com as questões que envolvem a escravidão. Era uma maneira de lutar contra a submissão. A resistência dos grupos escravizados possui aspectos de contracultura, no sentido de oposição ao sitema vigente, e tornou-se uma alternativa cultural na tentativa de reconstruir a tribo partindo de uma visão cósmica dos valores míticos e das experiências com o sagrado. Unindo diferentes etnias em um sistema de inter-relações, criando uma estrutura hierarquizada de papéis e vinculando funções sagradas, os cultos Africanistas puderam, em certa medida, substituir a comunidade tribal original.


A religião permitia ao indivíduo negro, privado da solidariedade social, a possibilidade de integrar-se numa estrutura que substituía a tribo e a família, e era relativamente tolerada pelos dominadores. Esta integração, sedimentada ao longo do processo colonial brasileiro, transformou-se através do arrasamento gradativo do sistema patriarcal, culminando na abolição da escravatura.

Referências:
ELIADE, Mircea e COULIANO, Ioan. Dicionário das Religiões. São Paulo: Martin fontes, 1999.
ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 2006.
VERGER, Pierre. Orixás. Salvador: Corrupio, 1981.

denise silveira.

candomblé

O termo Candomblé designou, de início, os instrumentos, a música e a dança de origem africana. Mais tarde, seu sentido ampliou-se passando a indicar toda a experiência religiosa Africanista. O Candomblé, com seus valores hierárquicos e mágicos, com sua forma de resistência, manteve-se no novo contexto social brasileiro como meio de reintegração dos negros recém libertos. Era a religião da liberdade.

O desenvolvimento do Candomblé, principalmente na Bahia, foi favorecido pela preservação de núcleos populacionais onde o negro era maioria: como os Quilombos e seus Quilombolas e outras comunidades descendentes de escravos. Nesses ambientes, vestígios culturais africanos permeavam o cotidiano das vivências: Desde as expressões orais e corporais, passando pela musicalidade e pela culinária, até os modos de relacionamentos familiar e sexual. Desde a valorização da família e do transe, até a visão mítica e mágica do mundo. No entanto, com o passar do tempo, a cor da pele começa a não significar mais tamanha importância no Candomblé.

Nas cerimônias misturam-se pessoas de várias origens. Os membros cultivam à crença nos Orixás, uma expressão corporal e sensibilidade rítmica africana hibridizada com a sensibilidade rítmica e as simbologias indígenas, misturando-se a isto também valores das crenças católica e espírita, criando assim um universo cultural religioso muito especial. Os participantes do Candomblé consideram-se filhos espirituais da ‘mãe’ África e recusam abertamente muitos padrões impostos pela sociedade. Através de uma profunda experiência religiosa baseada na crença dos Orixás, os adeptos do Candomblé (que derivou em outros cultos como o Batuque, a Umbanda e a Quimbanda, por exemplo) vivem integrados num meio onde o status social cedeu lugar ao status religioso.

A integração de alguém no Candomblé é muito lenta. Há, num primeiro momento, a necessidade de conhecer o Orixá que será identificado como o ‘dono’ ou 'pai' da cabeça do indivíduo. Um outro Orixá, consequentemente, é associado ao corpo e, dessa relação entre cabeça e corpo, forma-se uma equação que dá equilíbrio à regência da espiritualidade da pessoa. A Iniciação completa, visando formar um Filho ou Filha-de-Santo, obedece a um ritual complexo e longo, que abrange o aprendizado dos mitos, do culto, dos cantos e dos rudimentos da língua africana (Iorubá e Nagô). Durante o resto da vida o Filho-de-Santo se compromete em cumprir todos os rituais prescritos: receberá seu Orixá e manterá algumas restrições sexuais e alimentares. Ao morrer, sua roupa será lavada e, junto a seus objetos sagrados, jogada ao mar para que seu espírito retorne à África.

Na organização religiosa, o respeito ao sagrado parece espontâneo e não imposto. Durante as cerimônias o silêncio se faz por si mesmo. Nos momentos em que é natural calar, todos se calam. Uma linha muito tênue separa o profano do sagrado. E no interior de um mesmo instante há sempre uma relação ambígua em manifestações com inúmeros significados ocultos. A experiência religiosa Africanista leva seus ‘filhos’ a estados alterados de consciência e personalidade, de uma forma extremamente singular. O transe e a catarse fazem parte dos rituais como modo de dar lugar às entidades divinizadas e purificar os participantes das cerimônias, ao jeito de homenagear os Orixás e seus significado mitológicos. Contudo, há também uma certa atenção quanto a possíveis perturbações vindas de fora, para que não se interrompa a euforia e a concentração ritualísticas. Alguns momentos não podem ser assistidos por todos e, por vezes, não podem ser registrados.

Algumas práticas são ocultas. E uma série de simbologias e significações que envolvem o Africanismo mantêm-se preservadas sob um manto de mistério. Esta Religião, aqui no Brasil moldada durante meio milênio de colonização, herda uma ancestralidade cultural mitica das tribos originais africanas mas cria uma mistura histórica da cultura religiosa de diversas tribos, com elementos cristãos e indígenas que dão ao Africanismo brasileiro uma distinção extremamente inusitada.

Referências:
ELIADE, Mircea e COULIANO, Ioan. Dicionário das Religiões. São Paulo: Martin fontes, 1999.
ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 2006.
VERGER, Pierre. Orixás. Salvador: Corrupio, 1981.

denise silveira

alupo






















Essa série de imagens faz parte de um trabalho documental que visa registrar fotograficamente rituais religiosos. Iniciamos pelo Africanismo e, a partir dele, encontramos a Quimbanda - linha ritualista que faz parte do Candomblé.


Na Quimbanda, uma palavra muito pronunciada é Alupo, que em Nagô, dialeto de origem africana, tem significado de saudação. É com ela, geralmente, que se iniciam os rituais da Quimbanda em terreiros africanistas. Escuta-se Alupo entoado repetidamente por Pais e Filhos de Santo ao início das cerimônias e, por esta razão, escolhemos justamente a palavra para dar nome a série fotográfica aqui presente.


Temos como objetivo representar, através das imagens, um pouco do que pode ser visto durante esses rituais, que são expressão da riqueza multicultural brasileira. São fotografias que revelam manifestações freqüentes e foram realizadas durante um período de três anos (de 2003 a 2006) em que acompanhamos diferentes rituais em diversos terreiros de Porto Alegre e região metropolitana.


A Quimbanda caracteriza-se por ser uma das linhas existentes dentro dos cultos afro-brasileiros, porém suas influências não são somente Bantu, Nagô ou Iorubá (nações africanas) elas também abrangem, em larga escala, aspectos de outras religiosidades como a Indígena, a Católica e a Espirita.

A entidade essencialmente cultuada na Quimbanda é o Exu (que tem sua origem em um Orixá africano chamado Elegbará) Exú é tão importante quanto todos os demais Orixás, mas mistura características divinas com as humanas. Por ser considerado guardião e mensageiro entre o mundo dos homens e o dos Deuses, Exu possui costume e temperamento muito próprios, que mesclam traços típicos da personalidade dos Orixás com as do Ser-humano.

Entretanto, na Quimbanda brasileira, o Exu cedeu lugar também aos espíritos desencarnados de pessoas que participaram desta religião em tempos passados, como os Pretos-velhos e as Pombas-giras. E algumas deidades indígenas que incorporaram-se aos cultos em determinadas regiões onde a formação cultural deu-se a partir da mistura cultural entre o negro, o índio e o colonizador.


Podemos observar, através das imagens, que não há predominância negra dentre os partícipes dos ritos. Aqui, no Rio Grande do Sul, por exemplo, essa predominância já se dissolveu como em muitas outras regiões brasileiras. E objetos, roupas e elementos utilizados durante as celebrações tem, em sua maioria, grande influência da moda do século XIX, período em que se deu a abolição da escravatura e a pequena burguesia assumidamente começou a fazer parte dos rituais. Período tbm em que viveram e fizeram parte desse tipo cerimônia personagens que se tornaram figuras típicas para, depois de mortos, se transformarem em entidades de culto, como os Pretos-velhos e Pombas-giras.


As fotografias foram realizadas em processo analógico, preservando a incidência da luz natural. Em conseqüência, realizaram-se muitas imagens em movimento borrado (em conseqüência das baixas velocidades de obturação) e com grãos saturados (em conseqüência da alta sensibilização do filme a pouca luz).

denise silveira

http://www.flickr.com/photos/denisesilveira/

sexta-feira, 16 de maio de 2008


Antes mesmo de abrir os olhos, pensei 'outro dia'. Tudo igual. Mesma rotina, mesma vontade de fazer, mesmo fazer sem suprimir a angustia, mesmo descansar sem deixar de estar cansada. O quarto estava quente, senti meu pe molhado, o calor das cobertas me fez levantar e entrebrir a veneziana para atingir a janela. Sem querer, olhei para fora. A rua estava coberta de neve. Gelo branco que a tudo estetitizava. A paisagem me fez pular e meu coracao bater empolgado.

Corri para o jardim com a camera no pescoco. Estava branco. A neve delimitava as linhas e curvas da natureza. Os galhos das arvores, as degraus das escadas, a mesa, as cadeiras, o gramado… tudo parecia ter sido desenhado cuidadosamente.

Nas ruas, percebi a poluicao visual urbana minimizada pela substancia que caiu do ceu noite adentro. Minha alegria, externizada nos clicks da camera, irritava Cj que queria brincar. ‘Pra que serve a neve se nao formarmos bolas e atirarmos uns nos outros?’ Tentei apurar, mas a paisagem enchia meus olhos. Queria eternizar aqueles telhados branquinhos, aquela cidade limpa e esteticamente modificada que via. Cada arvore contornada de branco me fazia suspirar.

Chegamos ao parque. Gramado imenso. Arvores gigantes e antigas. Troncos no chao feitos bancos. Familias, casais, cachorros, galeras. Alguns brincavam, outros contemplavam. Todos se divertiam.

Um boneco de neve chamou atencao de Cj: vou transforma-lo em um coelho. Boa ideia, incentivei pensando ‘dai fico livre pra vagar pelo parque em busca de imagens interessantes’. Seu trabalho gelado iniciou ao mesmo tempo em que me distanciava. Caminhei, fotometrei, busquei e nada encontrei. Quando ja cansada, percebi que deveria largar a camera e brincar. Jogar neve, ajudar a moldar o tal coelho.

Coelho pronto, os elogios dos passantes comecaram. Ponto turistico no parque por alguns minutos. Nos afastamos e de longe vimos criancas chutando a obra.

No caminho de volta, ja sem o grande excitamento da manha, com o sol dissolvendo os ultimos resquicios de neve, filosofamos sobre o Coelho. Algumas semanas atras foi domingo de pascoa. Evento este que tem como simbolo o animal reprodutor.

Se ‘boneco de neve’ e simbolo do Natal, ‘coelho de neve’ poderia vir a tornar simbolo da pascoa, nesse novo mundo de mudancas climaticas.

Sua intencao foi de criar um Coelho de Neve para justamente realçar esta inusitada neve em pleno abril. Tempo de florescer. Primavera, sol, inicio de calor. Estava consciente de que se dissolveria em poucas horas, porem outro sinal simbolizou a sociedade destrutiva em que vivemos: as criancas aceleraram o processo, demoliram com seus chutes inocentes, o Coelho de Neve. Como nos, humanos inocentes aceleramos o processo de destruicao do planeta, com nossa omissão e falta de informacao.

candi

a pele rural








“A Pele Rural” é um trabalho de documentação social que deu origem à uma exposição fotográfica* e um video-documentário, captados durante viagens no interior do Rio Grande do Sul pelo Khaos – Grupo de Fotografia - numa parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Unisinos. Os integrantes do Khaos, Rafael Reck, Anna Carolina, Leonardo Remor, Tiago Coelho, Denise Silveira, Rita Rosa, Cândida Lucca e Ângela Alegria, passaram 30 dias, 3.000 km e 5.000 cliques, buscando as diferenças, as semelhanças e, principalmente, a intimidade com o homem trabalhador da terra.
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A fotógrafa e professora Jacqueline Joner, fez o trabalho de curadoria d’A Pele Rural e dá o suporte para desenvolverem um trabalho em que as questões técnicas da fotografia andam de mãos dadas com a linguagem, com a discussão estética da imagem. A viagem/trabalho passou por comunidades rurais como Casca, em Mostardas, litoral sul, onde vivem 90 famílias de remanescentes quilombolas em 2640 hectares. Os descendentes de imigrantes brancos, minifundiários, fruto da miscigenação de alemães, italianos e poloneses foram encontrados nos arredores de Santo Cristo, pequena cidade no noroeste do estado. Nas areias do assentamento do movimento sem-terra, na Lagoa do Junco em Tapes, sudoeste do estado, as diferentes cores e misturas étnicas se somam numa fértil cooperativa. E no Salto do Jacuí, na região dos vales, ao norte, os vermelhos índios Guaranis habitam uma aldeia/reserva de 274 hectares entre 39 famílias, 152 habitantes.
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Suor. Pele. Criação. Khaos.
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Khaos, nas mitologias pré-filosóficas, personifica o grande vazio obscuro e ilimitado que precede e propicia a geração do mundo, da terra, da criação. Pré-existe: existia sempre, coexiste com o mundo formal como imensa e inexaurível fonte de energia, e continuará existindo. É onde se dissolverão as formas no fim dos tempos. Terra, decorrência do Khaos, é a sagrada origem de tudo que para nós existe, contém todas as sementes, é promessa de vida, segurança e firmeza.
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* Conjunto de 99 imagens, que foram expostas durante A II conferência internacional sobre reforma agrária e desenvolvimento rural, no Átrio do Santander Cultural, em Porto Alegre - RS.
Créditos das imagens: Denise Silveira; Cândida Lucca; Tiago Coelho; Ângela Alegria; Rita Rosa; Leonardo Remor; Anna Carolina; Rafael Reck.
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