Quando penso na quantidade de conhecimento que se perde, ao longo dos anos, por questões como conquista, guerra e poder, fico realmente abismada. Triste e perdida. Ora, o ser humano é realmente um bicho muito estranho. Ao mesmo tempo em que cria coisas maravilhosas como as manifestações artísticas e culturais, a arquitetura, a astronomia e a medicina, consegue passar por cima disso tudo destruindo e aleijando apenas para satisfazer seu egoísmo, sua vaidade, sua ganância.
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Ao longo dos séculos, dos milênios, as civilizações humanas construíram e destruíram milhares de formas de conhecimento. Um exemplo claro disto apareceu-me durante saborosa leitura de uma revista[1] de etnoastronomia[2]. Esta revista, interessantíssima, apresentava diversas matérias e reportagens de estudos arqueológicos e antropológicos sobre culturas já extintas ou quase-extintas. A partir do trabalho desses cientistas (antropólogos e arqueólogos) algo sobre as culturas ‘primitivas’ vem sendo resgatado na atualidade. Para compreendermos nosso passado e pensarmos sobre o presente.
Ao longo dos séculos, dos milênios, as civilizações humanas construíram e destruíram milhares de formas de conhecimento. Um exemplo claro disto apareceu-me durante saborosa leitura de uma revista[1] de etnoastronomia[2]. Esta revista, interessantíssima, apresentava diversas matérias e reportagens de estudos arqueológicos e antropológicos sobre culturas já extintas ou quase-extintas. A partir do trabalho desses cientistas (antropólogos e arqueólogos) algo sobre as culturas ‘primitivas’ vem sendo resgatado na atualidade. Para compreendermos nosso passado e pensarmos sobre o presente.
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Existiu um povo aborígine australiano chamado Boorong. Deste povo foram encontrados vestígios de civilização há mais de 65 mil anos. Quer dizer, há mais de 650 séculos existiu um povo constituído com cultura própria na região da Oceania. (Os vestígios sobre a existência da civilização européia, por exemplo, se dá há não mais de 14 mil anos).
Existiu um povo aborígine australiano chamado Boorong. Deste povo foram encontrados vestígios de civilização há mais de 65 mil anos. Quer dizer, há mais de 650 séculos existiu um povo constituído com cultura própria na região da Oceania. (Os vestígios sobre a existência da civilização européia, por exemplo, se dá há não mais de 14 mil anos).
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O povo Boorong deixou alguns poucos registros sobre sua existência. Elementos que foram encontrados durante escavações arqueológicas e apontamentos feitos por alguns cientistas ingleses durante a colonização da Austrália no séc. XVIII, época em que o povo Boorong foi totalmente destruído por conta da colonização européia na região. Durante um período de aproximadamente 150 anos, a conquista territorial destruiu a civilização Boorong. Povo do qual jamais ouvira falar... Uma cultura de 65 mil anos!
O povo Boorong deixou alguns poucos registros sobre sua existência. Elementos que foram encontrados durante escavações arqueológicas e apontamentos feitos por alguns cientistas ingleses durante a colonização da Austrália no séc. XVIII, época em que o povo Boorong foi totalmente destruído por conta da colonização européia na região. Durante um período de aproximadamente 150 anos, a conquista territorial destruiu a civilização Boorong. Povo do qual jamais ouvira falar... Uma cultura de 65 mil anos!
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Atualmente, estudiosos sabem que este foi um povo dotado de intrigante conhecimento astronômico e crença espiritual. Viam na movimentação das estrelas um reflexo dos fatos da natureza ao seu redor. Fico imaginando a quantidade e a qualidade de conhecimento que foram perdidos com a destruição desse povo. Assim como os Boorongs, diversas outras culturas foram destruídas e transformadas em virtude de guerras e conquistas territoriais. No Brasil, por exemplo, os Caiapós e Bororos utilizavam o céu para, entre outros aspectos, definir o tempo de colheita e a chegada das chuvas. E os africanos, trazidos como escravos para cá, e cuja interpretação dos astros se misturou à dos indígenas, resultou em novas formas de concepção do cosmos, desta vez, muito mais religiosa que qualquer outra coisa.
Atualmente, estudiosos sabem que este foi um povo dotado de intrigante conhecimento astronômico e crença espiritual. Viam na movimentação das estrelas um reflexo dos fatos da natureza ao seu redor. Fico imaginando a quantidade e a qualidade de conhecimento que foram perdidos com a destruição desse povo. Assim como os Boorongs, diversas outras culturas foram destruídas e transformadas em virtude de guerras e conquistas territoriais. No Brasil, por exemplo, os Caiapós e Bororos utilizavam o céu para, entre outros aspectos, definir o tempo de colheita e a chegada das chuvas. E os africanos, trazidos como escravos para cá, e cuja interpretação dos astros se misturou à dos indígenas, resultou em novas formas de concepção do cosmos, desta vez, muito mais religiosa que qualquer outra coisa.
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Se estas culturas tivessem sido preservadas, quanto teríamos acumulado de história e conhecimento? Será que estaríamos usando ainda somente 10% de nossa cabeça animal? Não dá para saber.
Se estas culturas tivessem sido preservadas, quanto teríamos acumulado de história e conhecimento? Será que estaríamos usando ainda somente 10% de nossa cabeça animal? Não dá para saber.
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É doido. Mas o desejo de conquista e a propensão à guerra são inatos ao ser humano. Me resta pensar que o importante é termos conhecimento histórico, incentivarmos o estudo e a pesquisa, preservarmos o que nos resta de recursos culturais e naturais e construirmos uma nova visão de mundo. Um novo mundo. Coerente com a nossa atual visão de vida. Se na contemporaneidade, são muito usados termos como multiculturalidade, interface e globalização, acredito que se usarmos isso como saída para nosso aprendizado e evolução, respeitando as diferentes formas de pensar e agir, talvez possamos aumentar nossa massa cinzenta. E nos encantarmos mais com as coisas belas que o ser humano é capaz de criar.
É doido. Mas o desejo de conquista e a propensão à guerra são inatos ao ser humano. Me resta pensar que o importante é termos conhecimento histórico, incentivarmos o estudo e a pesquisa, preservarmos o que nos resta de recursos culturais e naturais e construirmos uma nova visão de mundo. Um novo mundo. Coerente com a nossa atual visão de vida. Se na contemporaneidade, são muito usados termos como multiculturalidade, interface e globalização, acredito que se usarmos isso como saída para nosso aprendizado e evolução, respeitando as diferentes formas de pensar e agir, talvez possamos aumentar nossa massa cinzenta. E nos encantarmos mais com as coisas belas que o ser humano é capaz de criar.
[1] Edição temática de Scientific American Brasil. A revista apresenta aspectos dos primórdios da astronomia moderna (observações de Mesopotâmios e Gregos), à etnoastronomia dos nativos brasileiros, passando por diversas outras culturas e suas formas de ver o mundo, o cosmos.
[2] Etnoastronomia é ciência que procura entender a visão que diferentes grupos étnicos e culturais têm do Universo.
denise silveira.