domingo, 6 de janeiro de 2008

tarde lúdica

Domingo desses, duas exposições preencheram minha mente de satisfação visual.
A primeira, fruí sozinha: 'The painting of modern life' na galeria 'The Hayward', em Londres.
O título e a reunião das obras de diversos artistas foram inspirados no livro 'The painter of modern life' do crítico e poeta Charles Baudelaire. Publicado em 1863, o texto dizia que as pessoas/ artistas deveriam seguir produzindo o que viam e vivenciavam em seus cotidianos, rejeitando o idealismo da pintura acadêmica. Um século após, abstração tornava-se a nova forma de arte produzida nas universidades. Em reação a isto, artistas europeus e norte-americanos, independetemente, começaram a seguir o desafio de pintar a vida moderna.
Representaram, cada um ao seu estilo, a politica e a guerra. Trabalho e lazer. Espaço social e indivíduos da modernidade. Familiares e amigos.
Tudo lá, em fotografias reinterpratadas. Reproduzidas. Reinventadas. Pintadas, através de diferentes métodos e materiais. Umas borradas, outras anuviadas, também coloridas e imensas. Todavia, algumas tão fiéis a origem que nem pareciam pinturas.
Saí na correria em direção à outra galeria londrina: Tate Modern. Ali, encontrei uma babel de línguas e gentes. Famílias inteiras dividiam o espaço dessa antiga fábrica que hoje abriga obras de inúmeros. Uma delas, na entrada principal, deveria ser fruída com o pescoço curvo: uma rachadura enorme no chão, obra do Colombiano Doris Salcedo.
No último piso, na exposição sobre minimalismo, escutei o resultado do desafio de alguns músicos em representarem sonoramente algumas das obras visuais. Man Like Me compôs inspirado no readymade 'Fountain' de Marcel Duchamp. Enquanto ouvia a canção, um guia explicava o mijatório para um grupo. Eu, sorria. Momento lúdico. Batia o pé, quase dançava. A mesma obra que estudei na disciplina de Gilmar Hermes estava sendo explicada novamente em minha vida, mas dessa vez eu não tava nem aí: ouvia uma música sobre a tal. O mictório, chamado de 'Fountain', é fruto de uma crítica: um objeto do mundo real que pode ser considerado arte se colocado numa galeria, com um discurso suportando-o.
Tudo o que vemos diariamente considerado arte????? Já que tudo é mesmo.... Que o mundo seja uma obra de arte maravilhosa. Que possamos imergir e fruir o mundo. A realidade cotidiana vista de forma bela. Fotografável. Inspiração banal.
Ao lado do urinol, também num aquário de vidro, encontrei uma latinha envelhecida. Cheguei perto e li: 'artist's shit', em três línguas. O italiano Piero Manzoni enlatou seu excremento. Bizarrice pura.
Em sua esquerda, percebi três garrafas do líquido negro famoso internacionalmente. Com a mesma fonte e estilo da que já havia no vaso de vidro original, o artista brasileiro Cildo Meireles grafitou e colocou de volta em circulaçao garrafas de coca-cola. A mensagem continha uma fórmula para fazer coquetel molotov: coloca pavil dentro e acende!
Na verdade, é assim que vejo o mundo depois de visitar galerias de arte: colorido, geométrico, cheio de coisas que quero fotografar. Manter. Documentar. Creio que arte me ajuda a fruir a realidade visível.

cândi.

3 comentários:

Anônimo disse...

sim! que o mundo seja visto como uma obra de arte maravilhosa... pois o é. e que sua fruição, faça-nos criar novas formas de expressão artística.

My handshake disse...

interessante com tu se chapa com a arte. Até te vi batendo o pé e dançando no meio da galeria com o nariz pra cima e os olhos fechados. Hehe! Mas o que me intriga é a latinha envelhecida. Quanto tempo pode durar a obra artist's shit? Acho que ela vai se decompondo.

Anônimo disse...

Alexandre...
...Candy com seus olhos fechados, "naso" p cima, batendo o pé e dançando ao embalo de um som que, embora todos ouçam, aparentemente só ela compreende... Talvez essa seja a sua mais forte imagem em minha memória.
Parabéns, Maria, eu sempre soube q vc conseguiria.
Seu blog é dos meus "Favoritos" desde o seu primeiro minuto de existência.
Beijos...