domingo, 20 de janeiro de 2008

em nome dos boorongs

Quando penso na quantidade de conhecimento que se perde, ao longo dos anos, por questões como conquista, guerra e poder, fico realmente abismada. Triste e perdida. Ora, o ser humano é realmente um bicho muito estranho. Ao mesmo tempo em que cria coisas maravilhosas como as manifestações artísticas e culturais, a arquitetura, a astronomia e a medicina, consegue passar por cima disso tudo destruindo e aleijando apenas para satisfazer seu egoísmo, sua vaidade, sua ganância.
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Ao longo dos séculos, dos milênios, as civilizações humanas construíram e destruíram milhares de formas de conhecimento. Um exemplo claro disto apareceu-me durante saborosa leitura de uma revista[1] de etnoastronomia[2]. Esta revista, interessantíssima, apresentava diversas matérias e reportagens de estudos arqueológicos e antropológicos sobre culturas já extintas ou quase-extintas. A partir do trabalho desses cientistas (antropólogos e arqueólogos) algo sobre as culturas ‘primitivas’ vem sendo resgatado na atualidade. Para compreendermos nosso passado e pensarmos sobre o presente.
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Existiu um povo aborígine australiano chamado Boorong. Deste povo foram encontrados vestígios de civilização há mais de 65 mil anos. Quer dizer, há mais de 650 séculos existiu um povo constituído com cultura própria na região da Oceania. (Os vestígios sobre a existência da civilização européia, por exemplo, se dá há não mais de 14 mil anos).
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O povo Boorong deixou alguns poucos registros sobre sua existência. Elementos que foram encontrados durante escavações arqueológicas e apontamentos feitos por alguns cientistas ingleses durante a colonização da Austrália no séc. XVIII, época em que o povo Boorong foi totalmente destruído por conta da colonização européia na região. Durante um período de aproximadamente 150 anos, a conquista territorial destruiu a civilização Boorong. Povo do qual jamais ouvira falar... Uma cultura de 65 mil anos!
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Atualmente, estudiosos sabem que este foi um povo dotado de intrigante conhecimento astronômico e crença espiritual. Viam na movimentação das estrelas um reflexo dos fatos da natureza ao seu redor. Fico imaginando a quantidade e a qualidade de conhecimento que foram perdidos com a destruição desse povo. Assim como os Boorongs, diversas outras culturas foram destruídas e transformadas em virtude de guerras e conquistas territoriais. No Brasil, por exemplo, os Caiapós e Bororos utilizavam o céu para, entre outros aspectos, definir o tempo de colheita e a chegada das chuvas. E os africanos, trazidos como escravos para cá, e cuja interpretação dos astros se misturou à dos indígenas, resultou em novas formas de concepção do cosmos, desta vez, muito mais religiosa que qualquer outra coisa.
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Se estas culturas tivessem sido preservadas, quanto teríamos acumulado de história e conhecimento? Será que estaríamos usando ainda somente 10% de nossa cabeça animal? Não dá para saber.
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É doido. Mas o desejo de conquista e a propensão à guerra são inatos ao ser humano. Me resta pensar que o importante é termos conhecimento histórico, incentivarmos o estudo e a pesquisa, preservarmos o que nos resta de recursos culturais e naturais e construirmos uma nova visão de mundo. Um novo mundo. Coerente com a nossa atual visão de vida. Se na contemporaneidade, são muito usados termos como multiculturalidade, interface e globalização, acredito que se usarmos isso como saída para nosso aprendizado e evolução, respeitando as diferentes formas de pensar e agir, talvez possamos aumentar nossa massa cinzenta. E nos encantarmos mais com as coisas belas que o ser humano é capaz de criar.

[1] Edição temática de Scientific American Brasil. A revista apresenta aspectos dos primórdios da astronomia moderna (observações de Mesopotâmios e Gregos), à etnoastronomia dos nativos brasileiros, passando por diversas outras culturas e suas formas de ver o mundo, o cosmos.
[2] Etnoastronomia é ciência que procura entender a visão que diferentes grupos étnicos e culturais têm do Universo.
denise silveira.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

que em 2008, você












Consideramos esses slides uma ótima maneira de passarmos uma ídeia na qual acreditamos adiante. Esperamos que a cada dia, dos que ainda temos pela frente, possamos ser pessoas mais bem informadas e conectadas com o mundo a nossa volta. Isto vale para esse ano e para todos os outros também. Pois desejamos que os novos dias sejam de mudançase transformações. Que saibamos aproveitar as boas coisas da vida e aprender com as más. Que busquemos saúde física e mental, cultura, conhecimento. Que encontremos nossa paz interior. Que tracemos um propósito e caminhemos em direção aos nossos sonhos com fidelidade. Que respeitemos nossos princípios e valores. Que sejamos pessoas melhores.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

cuidado

O diálogo interpessoal sempre foi importante para minha evolução individual. Outro dia conversei com a mestra sobre as "causas" dos anos 60 e 70. Motivo de luta dos jovens: liberdade de todo o tipo, contra a repressão. Tempo criativo: Gil, Caetano e Ton Zé compunham canções lindas, felizes, inteligentes, tristes e mágicas.
Diálogo que evoluiu para: quais são as "causas" de hoje? Pelo que devemos lutar? Qual é nossa missão? De passagem aqui estou. Mas, para quê?
Cuidar do planeta, disse a sabia mestra.
Estamos aqui para Cuidar do Planeta: e essa é missao dos jovens, crianças, adultos e velhinhos.
Pós-conversa, pensava então no melhor lugar para o fazê-lo: na Amazônia? Lutando pela sobrevivência dos indígenas e por conseqüência pelo pulmão do mundo?
Com outra amiga segui meu intercâmbio de informações. Para ela, sua incumbência seria em país nórdico: aqui é que continuam a desejar madeiras nobres e exóticas! Aqui é que colares em pedras preciosas são adquiridos! Se compro uma camiseta produzida pela mão de uma criança escrava, não posso me considerar consciente!
Comecei a refletir sobre a quantidade de energia consumida: o conforto dos lares, os equipamentos, a gula.
Campanhas de conscientização são feitas, algumas até avisam que essa maneira de viver esta matando a Terra.
Nosso cotidiano, cheio desse dispêndio desesperado, de consumo energético desnecessário, de guarda-roupas repleto de roupas que não usamos, de geladeira plena de comida supérflua.
Os seres pensantes interferem diariamente no clima de países desprovidos de tecnologia pra se defenderem. O 'climate change' está aí, sem retorno. Trazendo desastres naturais impossíveis de serem evitados.
Urge uma mudança de hábito geral da população mundial: do ser humano robotizado inserido na sociedade de consumo.
*******************************************que eu seja capaz de pensar antes de agir.

cândi.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

já sinto saudades

Já sinto saudade do que não pude ter. Uma nostalgia de algo não vivido. Dos dias que não tive. Dos dias que não tivemos. Do amor que não vivemos. De tudo que não sentimos.
Já sinto saudade de ti. Do que poderias ser. Do quanto não fostes.
Já sinto saudade de mim.
denise.

domingo, 6 de janeiro de 2008

tarde lúdica

Domingo desses, duas exposições preencheram minha mente de satisfação visual.
A primeira, fruí sozinha: 'The painting of modern life' na galeria 'The Hayward', em Londres.
O título e a reunião das obras de diversos artistas foram inspirados no livro 'The painter of modern life' do crítico e poeta Charles Baudelaire. Publicado em 1863, o texto dizia que as pessoas/ artistas deveriam seguir produzindo o que viam e vivenciavam em seus cotidianos, rejeitando o idealismo da pintura acadêmica. Um século após, abstração tornava-se a nova forma de arte produzida nas universidades. Em reação a isto, artistas europeus e norte-americanos, independetemente, começaram a seguir o desafio de pintar a vida moderna.
Representaram, cada um ao seu estilo, a politica e a guerra. Trabalho e lazer. Espaço social e indivíduos da modernidade. Familiares e amigos.
Tudo lá, em fotografias reinterpratadas. Reproduzidas. Reinventadas. Pintadas, através de diferentes métodos e materiais. Umas borradas, outras anuviadas, também coloridas e imensas. Todavia, algumas tão fiéis a origem que nem pareciam pinturas.
Saí na correria em direção à outra galeria londrina: Tate Modern. Ali, encontrei uma babel de línguas e gentes. Famílias inteiras dividiam o espaço dessa antiga fábrica que hoje abriga obras de inúmeros. Uma delas, na entrada principal, deveria ser fruída com o pescoço curvo: uma rachadura enorme no chão, obra do Colombiano Doris Salcedo.
No último piso, na exposição sobre minimalismo, escutei o resultado do desafio de alguns músicos em representarem sonoramente algumas das obras visuais. Man Like Me compôs inspirado no readymade 'Fountain' de Marcel Duchamp. Enquanto ouvia a canção, um guia explicava o mijatório para um grupo. Eu, sorria. Momento lúdico. Batia o pé, quase dançava. A mesma obra que estudei na disciplina de Gilmar Hermes estava sendo explicada novamente em minha vida, mas dessa vez eu não tava nem aí: ouvia uma música sobre a tal. O mictório, chamado de 'Fountain', é fruto de uma crítica: um objeto do mundo real que pode ser considerado arte se colocado numa galeria, com um discurso suportando-o.
Tudo o que vemos diariamente considerado arte????? Já que tudo é mesmo.... Que o mundo seja uma obra de arte maravilhosa. Que possamos imergir e fruir o mundo. A realidade cotidiana vista de forma bela. Fotografável. Inspiração banal.
Ao lado do urinol, também num aquário de vidro, encontrei uma latinha envelhecida. Cheguei perto e li: 'artist's shit', em três línguas. O italiano Piero Manzoni enlatou seu excremento. Bizarrice pura.
Em sua esquerda, percebi três garrafas do líquido negro famoso internacionalmente. Com a mesma fonte e estilo da que já havia no vaso de vidro original, o artista brasileiro Cildo Meireles grafitou e colocou de volta em circulaçao garrafas de coca-cola. A mensagem continha uma fórmula para fazer coquetel molotov: coloca pavil dentro e acende!
Na verdade, é assim que vejo o mundo depois de visitar galerias de arte: colorido, geométrico, cheio de coisas que quero fotografar. Manter. Documentar. Creio que arte me ajuda a fruir a realidade visível.

cândi.