sexta-feira, 4 de abril de 2008

lembranças de 'a pele rural'


Aldeia Bonita, Salto do Jacuí. Dezessete de fevereiro de 2006.

Ao mundo com olhos de criança para encontrar uma maturidade tão lúdica quanto possível. E em observações fatais, dôo, furto...

Hoje, quando saímos do hotel, diferentemente das outras vezes, coloquei os óculos escuros. Fui a primeira a entrar na camionete e escolhi a janela. Estava com a câmera em mãos e fui mirando o caminho todo: As casas da cidadezinha, o menino de bicicleta, as árvores, as nuvens... Tudo visto com os óculos e com o filtro laranja, mas sem nenhum click. Quando entramos na reserva Indígena comecei a clicar o céu, as árvores secas, as árvores antigas. De repente, avistei uma índia correndo numa estradinha. Ela estava com o peito nu, apenas vestindo uma saia e muitos colares... Pedi para parar o carro. Desci e corri em direção a ela. Estava parada na estrada principal e conversava em Guarani com os moradores da casinha d’ outro lado. Quando me viu, tapou os seios. Parei de correr e fui chegando devagar, como quem não quer espantar um bicho selvagem... Falei em português algumas palavras, achando que ela não iria entender, mas com a intenção de que percebesse que queria um contato... Ela entendeu perfeitamente. E disse-me que não a fotografasse nua. Quis convencê-la, argumentando que estava ali para documentar como viviam. Que se costumava andar nua, era assim que gostaria de fotografá-la. Disse-me, então, que eu deveria pagar. Bloqueei completamente. Não soube o que fazer... Ela pediu-me as havaianas... Eu quis estabelecer um outro acordo, uma troca que só seria possível se ela confiasse em mim. Não consegui. Os índios aprenderam, acostumaram-se a trocar favores. E são desconfiados, têm medo de serem usurpados. Perdi a melhor imagem que poderia ter feito. Se a câmara que carregava em mãos não fosse a fotográfica, outros poderiam ver a cena mais exótica e natural que vi durante este trabalho: A bela índia correndo naturalmente por entre as árvores de peito nu. Consegui uma bela imagem: a índia de seios tapados naturalmente envergonhada.
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denise silveira.

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