terça-feira, 18 de dezembro de 2007

brasilianidade


No intuito de entender-me como nação, comecei a ler 'O povo brasileiro', de Darcy Ribeiro. Intelectual, antropólogo, educador, escritor.
Leio e, aos poucos, compreendo nossa origem, nossa brasilianidade, nossa mistura. Não é de hoje que me indigno com aquela estorinha de descobrimento.
****$$$$££££@@@@!!!!!!!! foi achamento, achatamento, matança, liquidação. Por que aprendemos aquela fábula quando crianças? E depois, lá no segundo grau, começam a nos mostrar um pouquinho mais da realidade passada. Na universidade, então, a fábula é ridicularizada. Aprendemos que aqueles episódios foram contados do ponto de vista do colonizador. Que não era tão herói assim. Era homem. Era fraco. Era ganancioso. Só pensava em si. Só pensa em si.

“Para os índios, a vida era um tranqüila fruição da existência, num mundo dadivoso e numa sociedade solidária. Claro que tinham suas lutas, suas guerras. Mas todas concatenadas, como prélios, em que se exerciam, valentes. Um guerreiro lutava, bravo para fazer prisioneiros, pela glória de alcançar um novo nome e e uma nova marca tatuada cativando inimigos. Também servia para ofertá-lo numa festança em que centenas de pessoas o comeriam convertido em paçoca, num ato solene de comunhão, para absorver sua valentia, que nos seus corpos continuaria viva.
Uma mulher tecia uma rede ou trançava um cesto com a perfeição de que era capaz, pelo gosto de expressar-se em sua obra, como fruto maduro de sua ingente vontade de beleza. Jovens, adornados de plumas sobre seus corpos escarlates de urucu, ou verde-azulados de jenipapo, engalfinhavam-se em lutas desportivas de corpo a corpo, em que punham a energia de batalha na guerra para viver seu vigor e sua alegria.
Para os recém chegados, muito ao contario, a vida era uma tarefa, uma sofrida obrigação, que a todos condenava ao trabalho e tudo subordinava ao lucro. Envoltos em panos, calçados de botas e enchapelados, punham nessas peças seu luxo e vaidade, apesar de mais vezes as exibirem sujas e molambentas, do que pulcras e belas. Armados de chucos de ferro e de arcabuzes tonitroantes, eles se sabiam e se sentiam a flor da criação. Seu desejo, obsessivo, era mutiplicar-se nos ventres das índias e pôr suas pernas e braços a seu serviço, pra plantar e colher suas roças, para caçar e pescar o que comiam. Os homens serviam principalmente para tombar e juntar paus-de-tinta ou para produzir outra mercadoria para seu lucro e bem-estar.”

O livro traz finalmente uma versão que creio ser mais isenta. &&&&& diz o ator, no prefacio, que toma partido. Quem não o faz? quem não simpatiza com causas e vê as injustiças e inverdades que são ditas?
cândi.

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