terça-feira, 2 de setembro de 2008

divagações de uma caminhante solitária

Desculpas à mim mesma. Por não saber escutar, por me precipitar, por não falar. Nessa angustiante busca por um sentido num propósito, desvirtuo, muitas vezes, do caminho. Sinto-me só. Esse sentimento que invade não é de todo triste, posto que é realidade inevitável: Nascemos nos tornarmos solitários e, com o passar do tempo, vamos aguçando a consciência dessa solidão. No entanto, solitude ambígua conflitua-se na intimidade do meu eu. Um eu que se esfacela, se fragmenta e tenta juntar pedaços para se reconstruir novamente e novamente.
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A cada dia um novo eu. Às vezes satisfeito, muitas outras atordoado. Aturdido, especialmente, na frustração causada pelo meu reflexo nos outros. O olhar do outro vai fazer com que eu veja a mim mesmo. Porém, entontecido, não me reconheço no espelho que são os outros. E me pergunto afinal, quem é esse eu? Talvez um hiato. O intervalo entre o que penso que sou e o que os outros pensam de mim. Mas se eu, até agora, não consigo concretizar quem sou pra mim mesmo. Como vou confiar na interpretação que faço de mim, nos outros? E mais ainda, como encontrar o espaço existente entre essas duas percepções?
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No entanto, creio que esse reflexo do eu no outro não passa do reflexo da minha aparência. E aparência é imagem ilusória. É projeção da imagem das coisas e não as coisas em si. Cândi tem razão, Sartre equivocou-se, o inferno não está nos outros. Está, sim, dentro de nós mesmos. Eu sou protagonista de minha própria existência. E as coisas que existem, existem para mim diferente do que são para os outros. Não posso reconhecer as minhas obrigações para com os outros senão na medida em que as reconheço para mim mesmo em primeiro lugar. Sigo, então, na incessante busca de meu intento. Numa eterna construção que revela novos sentimentos o tempo todo.
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Assim, descubro uma certeza boa: nesse universo de universos particulares, preocupo-me em melhorar e aceitar. Melhorar minha postura enquanto ente no mundo e aceitar a mudança latente presente em tudo. Numa constante busca em constante transformação.

denise silveira.