sexta-feira, 16 de maio de 2008


Antes mesmo de abrir os olhos, pensei 'outro dia'. Tudo igual. Mesma rotina, mesma vontade de fazer, mesmo fazer sem suprimir a angustia, mesmo descansar sem deixar de estar cansada. O quarto estava quente, senti meu pe molhado, o calor das cobertas me fez levantar e entrebrir a veneziana para atingir a janela. Sem querer, olhei para fora. A rua estava coberta de neve. Gelo branco que a tudo estetitizava. A paisagem me fez pular e meu coracao bater empolgado.

Corri para o jardim com a camera no pescoco. Estava branco. A neve delimitava as linhas e curvas da natureza. Os galhos das arvores, as degraus das escadas, a mesa, as cadeiras, o gramado… tudo parecia ter sido desenhado cuidadosamente.

Nas ruas, percebi a poluicao visual urbana minimizada pela substancia que caiu do ceu noite adentro. Minha alegria, externizada nos clicks da camera, irritava Cj que queria brincar. ‘Pra que serve a neve se nao formarmos bolas e atirarmos uns nos outros?’ Tentei apurar, mas a paisagem enchia meus olhos. Queria eternizar aqueles telhados branquinhos, aquela cidade limpa e esteticamente modificada que via. Cada arvore contornada de branco me fazia suspirar.

Chegamos ao parque. Gramado imenso. Arvores gigantes e antigas. Troncos no chao feitos bancos. Familias, casais, cachorros, galeras. Alguns brincavam, outros contemplavam. Todos se divertiam.

Um boneco de neve chamou atencao de Cj: vou transforma-lo em um coelho. Boa ideia, incentivei pensando ‘dai fico livre pra vagar pelo parque em busca de imagens interessantes’. Seu trabalho gelado iniciou ao mesmo tempo em que me distanciava. Caminhei, fotometrei, busquei e nada encontrei. Quando ja cansada, percebi que deveria largar a camera e brincar. Jogar neve, ajudar a moldar o tal coelho.

Coelho pronto, os elogios dos passantes comecaram. Ponto turistico no parque por alguns minutos. Nos afastamos e de longe vimos criancas chutando a obra.

No caminho de volta, ja sem o grande excitamento da manha, com o sol dissolvendo os ultimos resquicios de neve, filosofamos sobre o Coelho. Algumas semanas atras foi domingo de pascoa. Evento este que tem como simbolo o animal reprodutor.

Se ‘boneco de neve’ e simbolo do Natal, ‘coelho de neve’ poderia vir a tornar simbolo da pascoa, nesse novo mundo de mudancas climaticas.

Sua intencao foi de criar um Coelho de Neve para justamente realçar esta inusitada neve em pleno abril. Tempo de florescer. Primavera, sol, inicio de calor. Estava consciente de que se dissolveria em poucas horas, porem outro sinal simbolizou a sociedade destrutiva em que vivemos: as criancas aceleraram o processo, demoliram com seus chutes inocentes, o Coelho de Neve. Como nos, humanos inocentes aceleramos o processo de destruicao do planeta, com nossa omissão e falta de informacao.

candi

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